MERCADO DE AUTOPEÇAS NO BRASIL
A indústria de autopeças, devido à sua diversidade e multiplicidade de insumos e produtos, caracteriza-se por transformar e agregar valores a matérias primas e insumos utilizados na cadeia produtiva.
As principais matérias-primas utilizadas pelas indústrias do setor de autopeças advêm dos setores siderúrgico, metalúrgico, petroquímico, vidro, borracha, madeira e eletrônico, e são adquiridas no mercado interno, e também no mercado externo, para as quais o Brasil apresenta dependência de importações.
Invariavelmente, cada item produzido destina-se a uma aplicação específica e sua fabricação, depende de escala de produção que viabilize o retorno dos investimentos necessários.
A década de 90 foi um marco para a indústria de autopeças nacional. A abertura do mercado automobilístico para automóveis importados gerou uma profunda reestruturação no setor, exigindo maior qualidade, treinamento de pessoal e planejamento da produção. Algumas empresas familiares optaram pela profissionalização da gestão ou joint ventures com parceiros internacionais, mas em muitos casos ocorreu a venda do controle para grupos estrangeiros.
A indústria brasileira de autopeças congrega cerca de 500 empresas, incluindo pequenas, médias e grandes, e um dos seus maiores desafios é acompanhar o desenvolvimento tecnológico e o crescimento na produção de veículos.
O desempenho da indústria de autopeças é bastante influenciado pelo desempenho da indústria automobilística, que cada vez mais busca desenvolver-se no país, através da instalação de plantas locais. Por outro lado, a indústria de autopeças também comercializa seus produtos para o segmento de reposição, fato que contribui para uma resiliência maior em momentos de crise como ocorreu nos últimos.
Afinal, a aquisição de veículos novos pesa no orçamento e determina que a renovação da frota se torne supérfluo. Diante dessa situação os veículos passaram a circular por mais tempo nas ruas, fato que gera uma necessidade maior de reposição de peças derivadas de manutenções mais recorrentes. As consequências disso podem ser desfavoráveis para as montadoras, mas o mercado de autopeças se mantém numa posição extremamente favorável neste contexto.
Por exemplo, em 2017, houve um aumento de 1,2%, com 43,4 milhões de unidades circulando em todo o país. Frota aumentada significa mais usuários necessitando de reposições de peça constantemente.
MERCADO AUTOMOBILÍSTICO NO BRASIL
Uma das indústrias que mais gera renda, empregos e investimentos, na economia nacional, é a automobilística. De suma importância estratégica, incide diretamente sobre níveis de empregos e de investimentos diretos e indiretos. A produção de máquinas, equipamentos, peças e insumos, e as áreas de tecnologia, logística, varejo e prestação de serviços em geral, são diretamente impactados pela indústria automobilística, por ser um setor muito abrangente.
A indústria automobilística também apresenta a tendência de terceirizar parte de sua produção para os fornecedores. Com isso, as montadoras buscam concentrar-se nas atividades mais estratégicas (projeto, montagem, divulgação da marca) e delegar aos fornecedores o maior número de operações. Em função disso, os fabricantes de autopeças tornaram-se responsáveis por uma maior parcela das peças utilizadas nos automóveis, e por operações de pré-montagem.
Mais de 30 montadoras de veículos automotores estão presentes no Brasil atualmente. A indústria automobilística e o setor de autopeças foram pioneiros no processo de globalização da produção, isto é, de padronização internacional dos modelos e distribuição das operações de fabricação por vários países do mundo, minimizando custos e uniformizando qualidade.
Até o início da década de 1990, o domínio da indústria automobilística nacional era exercido pelas montadoras VW, GM, Ford e Fiat, únicas com plantas instaladas no país, com um mercado de aproximadamente 800 mil unidades por ano.
No início da década de 1990 (1990-1994), o então Presidente Fernando Collor reduziu as tarifas de importação e estimulou a indústria local a investir em novas tecnologias e produtos. O Presidente subsequente Itamar Franco, em conjunto com as associações (Anfavea e Fenabrave), implantou ações para incentivar a venda de veículos e reduziu a carga tributária para a produção dos automóveis com motorização de até 1.000 cc. O mercado atingiu 1,4 milhão de unidades em 1994, rompendo, pela primeira vez, a barreira de 1,0 milhão de unidades vendidas.
No período subsequente ao Plano Real (1994-1997) houve um forte aquecimento da economia, resultado do controle da inflação. As montadoras já estabelecidas anunciaram fortes investimentos no aumento da capacidade de produção e várias montadoras estrangeiras também elaboraram planos de investimentos para construção de fábricas no Brasil. As vendas de automóveis e comerciais leves no mercado doméstico mantiveram um crescimento expressivo, atingindo 1,9 milhão de unidades no ano de 1997.
O período da crise internacional (1998-2000) afetou fortemente a demanda por bens duráveis e, consequentemente, no Brasil as vendas de automóveis e comerciais leves também foram impactadas. Os consumidores perderam a confiança na época, em decorrência das fortes altas taxa de juros, reflexo da instabilidade. As vendas de Automóveis e Comerciais Leves recuaram a 1,2 milhão de unidades no ano de 1999.
No início dos anos 2000 (2001-2003), o mercado esboçou discreta recuperação, comprometida pela forte volatilidade no mercado (câmbio, juros e inflação), gerada pelo momento eleitoral de 2002. O mercado automotivo foi afetado pela incerteza do cenário macroeconômico brasileiro, mantendo, nesse período, um comportamento de estabilidade, na faixa de 1,4 milhão de unidades.
No período (2004-2007), fruto da política econômica e da estabilidade dos mercados externos, o câmbio se estabilizou e a inflação ficou controlada, propiciando uma queda gradual das taxas de juros. A economia local reagiu com 14 trimestres consecutivos de alta do PIB, gerando aumento gradual do índice de confiança dos consumidores. Como consequência desse cenário, a demanda por automóveis e comerciais leves iniciou uma fase de forte aquecimento. As instituições financeiras, estimuladas pela queda da taxa de juros, contribuíram para alavancar o crescimento das vendas, com prazos de financiamento maiores, resultando numa forte expansão do crédito. O mercado de Automóveis e Comerciais Leves recuperou os níveis de vendas de 1997.
Para contenção dos efeitos da crise financeira internacional sobre a economia pós-2008, as autoridades governamentais brasileiras adotaram diversas medidas de estímulo à demanda agregada, especialmente pela via do consumo, utilizando instrumentos fiscais, como a redução ou isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria automobilística. Embora tal esforço não fosse suficiente, o governo procurou eleger setores-chave da economia que detinham maiores capacidades de multiplicação de seus resultados. Foi o caso da indústria automobilística, reconhecida pela capacidade de geração de renda, de criação de empregos diretos e indiretos, e de fomento a várias outras indústrias na medida em que utiliza seus insumos.
Os anos de 2009 e 2010 foram muito bons para a Indústria automobilística no Brasil, os quais atingiram recordes de produção e de vendas. Segundo dados da ANFAVEA, em 2010, foram licenciados 2,85 milhões de veículos, alta de 7,6%. Neste ano (2010) a indústria automobilística e o mercado automotivo brasileiro posicionam-se entre os maiores do mundo: o Brasil passa a ser o 4° maior mercado e o 6° maior produtor automotivo mundial. O bom resultado se deu pela elevada oferta de crédito. As novas concessões para aquisição de veículos somaram R$ 50,2 bilhões, 69% superior à 2009. A valorização do real frente ao dólar (R$ 1,66 para cada dólar) impulsionou a entrada de veículos importados no país, resultando em mais de 660 mil veículos importados. Apesar das quatro maiores montadoras instaladas no país (VW, GM, FIAT e FORD) serem responsáveis por 50% deste montante, as coreanas Hyundai e KIA, juntas, importaram cerca de 23,0% deste total, ou seja, 146 mil unidades.
As vendas de veículos no Brasil em 2011 totalizaram 3,63 milhões de unidades (inclui veículos nacionais e importados), registrando crescimento de 3,4% em relação a 2010. A participação dos veículos importados foi de 23,6% das vendas totais. Neste momento os importados passam a ser um ponto negativo para a Indústria Nacional, que estimulados pelo câmbio, ganharam participação significativa no mercado.
O ano de 2012 foi especial para a indústria automobilística brasileira, pois foi beneficiada por fatos relevantes no decorrer do período, entre os principais destacam-se: Incentivos do governo; Investimentos anunciados por importantes montadoras (Fiat, Hyundai, Toyota, Nissan, Renault, Chery e JAC, entre outras); aumento considerável na alíquota para importações de automóveis.
Neste período também ocorreu o lançamento de 23 novas marcas e foram reestilizados 57 modelos; Os novos competidores no mercado (Hyundai, Toyota, Nissan, Chery, Jac, Renault) focaram o segmento de entrada, que representava mais de 70% do mercado brasileiro. Com o excelente desempenho em 2012, observou-se que nos últimos dez anos, as vendas no mercado interno da indústria automobilística brasileira cresceu 157%. Para ser ter uma ideia do quanto isso foi significativo, o PIB brasileiro deste período cresceu 45,13%.
Porém, o cenário de evolução apresentado nos últimos anos começou a mudar a partir de 2013, com queda na demanda interna e colapso nas exportações para mercados importantes como a Argentina. Entre 2008 e 2012, as empresas investiram R$ 45 bilhões em novas fábricas e na expansão de unidades existentes, contrataram 26,4 mil trabalhadores e elevaram a capacidade instalada da indústria em 16%, para 4,5 milhões de veículos por ano. Mas o cenário se inverteu, O quadro desfavorável no setor começou a aparecer no final de 2013, com estoques em alta e início de demissões.
A situação se agravou ainda mais em 2014, quando a restrição ao crédito e a menor disposição do brasileiro em ir às compras, se tornou mais agudo e a atividade da indústria atingiu níveis de queda alarmantes. Com milhares de funcionários demitidos e os estoques girando em aproximadamente 45 dias (número considerado elevado para a indústria automobilística), a crise estava instalada na economia nacional, sendo o setor mais atingido. Com isso, o Brasil caiu no ranking mundial, indo da 6ª posição no mundo em volume total de produção, para a 8ª posição em 2014, sendo superado pela Índia e pelo México.
Em 2015 a produção nacional de veículos encolheu 22,8% em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados pela associação de fabricantes (Anfavea), saindo das fábricas 2,43 milhões de unidades, contra 3,15 em 2014. O ritmo das linhas de montagem foi seguido pelos emplacamentos de veículos no país, que apresentaram queda de 26,5% em 2015, sendo o 3º ano seguido de baixa e o pior resultado de vendas desde 2006.
A crise em 2015 não teve precedentes em termos de profundidade, porém, as questões políticas acabaram contaminando fortemente a economia, aprofundando ainda mais a crise de confiança dos consumidores e dos empresários. O jeito que as fabricantes encontraram para diminuir o impacto da crise e estancar as demissões foi colocar em prática algumas ações, entre as quais: Férias coletivas, Acordos de jornadas de trabalho reduzidas, Plano de Proteção ao Emprego (PPE) proposto pelo Governo Federal, ou suspensão dos contratos de maneira temporária, o chamado layoff.
Ao longo do ano de 2016 a Indústria automobilística permaneceu sofrendo com a crise e a produção de veículos encolheu novamente, saindo das fábricas apenas 2,16 milhões de veículos. Neste momento a ociosidade das indústrias brasileiras já estavam em mais de 50% para veículos leves e 70% para os veículos pesados.
Em 2017, após 4 anos de queda, a indústria automobilística finalmente volta a crescer, apresentando uma evolução de 25,2% comparado ao ano de 2016, somando 2,70 milhões de unidades produzidas. Um dos principais fatores, responsável por este crescimento, foi a ampliação e renovação de acordos comerciais com países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Chile ainda em 2016, que resultaram em um avanço superior a 46% das exportações em 2017. Este desempenho também refletiu no número de colaboradores da indústria automobilística que estavam em layoff ou no seguro-desemprego, reduzindo de 38,8 mil em 2016 para 1,9 mil pessoas em 2017.